O que é a filosofia? (S03E01) – Transcrição

Transcrição do primeiro episódio da terceira temporada publicado no dia 18 de agosto de 2023.

Bloco 1

[Laira]
O que é a filosofia?
[Frank]
O quê?
[Laira]
Me responde.
[Frank]
O que é a filosofia?
[Laira]
Sim!
[Frank]
Oxe. Do nada. E porque, já?
[Laira]
É que eu tava aqui pensando pensamentos, né, e aí me veio essa dúvida. Como tu é filósofo, então resolvi perguntar de ti sobre isso.
[Frank]
Tu quer mesmo que eu te responda o que é filosofia? Porque pra eu dar uma resposta satisfatória eu vou precisar de um certo tempo.
[Laira]
Não, não: tudo bem.
[Frank]
O que exatamente tu tava pensando que te fez ter essa dúvida?
[Laira]
É que, tipo, do nada me peguei pensando sobre o sentido da vida, sabe… Aí fui no Google pesquisar sobre isso e foi aí que descobri que o que tava pensando se tratava de um problema filosófico. Aí do problema filosófico pra “O que é filosofia?” foi um pulo.
[Frank]
Então você chegou naturalmente a um problema filosófico.
[Laira]
Isso mesmo.
[Frank]
Saiba que isso é muito normal. As pessoas chegam naturalmente a filosofia porque a filosofia é algo natural, faz parte da nossa natureza. A nossa vida cotidiana é cheia de momentos, de acontecimentos que nos levam aos problemas filosóficos. Não é estranho, por exemplo, uma criança perguntar a um adulto se é tudo um sonho, saca? Pq a realidade é muito parecida com um sonho. Ou seja: a matéria bruta da filosofia vem diretamente do mundo e da nossa relação com ele.
[Laira]
Tá, mas tu ainda… não respondeu o que é a filosofia…
[Música de abertura do podcast]
[Frank]
Tu quer uma definição?
[Laira]
Quero sim.
[Frank]
Olha: é beeeeem difícil te dar uma definição de filosofia. Existem tantas concepções e definições de filosofia, onde elas as vezes são concorrentes entre si que fica difícil. Mas eu posso te responder te dando uma caracterização da filosofia, te dando as principais características. Que tal?
[Laira]
É… pode ser.
[Frank]
Pode ser?
[Laira]
Pode ser sim.
[Frank]
Ótimo!

Bloco 2

[Frank]
A filosofia pode ser definida ou caracterizada de muitas maneiras. Muitas mesmo. Só que o que vou fazer aqui é caracterizar a filosofia de uma maneira específica, tá?! Então fica o aviso: vou apresentar UMA caracterização da filosofia. Só uma. Mas saiba que ela é só uma e que existem outras maneiras de caracterizar ou definir a filosofia, certo?
[Laira]
Certo.
[Frank]
Bom, vamos começar pelo seguinte: a filosofia é uma disciplina que opera apenas pelo pensamento. Isso quer dizer o seguinte: não se conhece as coisas relacionadas a filosofia através da experiência empírica.
[Laira]
Então… a filosofia é diferente da ciência?
[Frank]
Bingo.
[Laira]
Huuuuuummmmm…
[Frank]
Na verdade a matemática, que é uma ciência – só que formal -, também opera pelo pensamento. Só que na matemática você tem uma maneira de definir quando um cálculo responde de maneira definitiva, conclusiva, a um problema matemático. Não é o caso da filosofia. Na filosofia você tem várias respostas concorrendo como a definitiva, mas falta um consenso que determine que certa resposta É a resposta definitiva.
[Laira]
Que desgraça, em?!
[Frank]
Poisé.
[Laira]
A filosofia só tem essa característica?
[Frank]
Não não: eu posso ofertar ainda mais duas.
[Laira]
Então diga.
[Frank]
Uma outra característica da filosofia está nela conseguir determinar qual é a sua produção. Tipo: quais autores ou obras contam como produções filosóficas? A produção filosófica é aquela apenas expressa em texto ou abarca outros meios? E por aí vai.
[Laira]
Então… o que vai contar como produção filosófica?
[Frank]
Textos dos mais variados estilos, como o diálogo, o tratado, o ensaio, o poema, o aforismo, a confissão e a carta.
[Laira]
Uou!
[Frank]
E também vai contar aqui como produção tudo aquilo que é considerado como cânone. Ou seja: vai do filósofo grego pré-socrático Tales de Mileto atéééé os dias atuais – vindo a maioria dessa produção dos europeus e dos estadunidenses.
[Laira]
Tá bom.
[Frank]
Só que fica aqui registrado o seguinte aviso. O que conto como produção filosófica é apenas pra termos um ponto de partida! Porque o que tô considerando como produção é algo beeeem conservador. Na verdade é uma perspectiva tradicional de produção. Só que esse tradicional é beemmm preconceituoso, pois desconsidera ou apaga pessoas pretas, mulheres e pessoas de lugares distantes de onde vem o cânone.
[Laira]
Então temos aí um combo de racismo, machismo e xenofobia?
[Frank]
Exatamente.
[Laira]
Mas que merda em…
[Frank]
Poisé.
[Laira]
Tem mais alguma outra característica?
[Frank]
Tem sim! Uma outra característica da filosofia está nela indicar o que se faz quando uma pessoa está filosofando. Agora: aqui eu vou contar como filosofar ela ocorrer apenas pelo pensamento, sem recorrer a experiência empírica – é o que chamam por aí de prática de poltrona. Além disso, o filosofar é aquele movimento do pensamento de perguntas e respostas envolvendo um ou mais conceitos.
[Laira]
Peraí. Conceitos?
[Frank]
Sim, sim: conceitos. Uma coisa que tu vai perceber rápido é que a filosofia trabalha analisando e clarificando conceitos muito centrais para o nosso pensamento – e ao mesmo tempo abstratos. Por isso é comum vermos a filosofia trabalhando sobre os conceitos de Deus, arte, vida, morte, estado, conhecimento, mente etc..
[Laira]
Huuummmmmm…
[Frank]
Aí o filosofar trabalha nesse esquema de ter um ou mais conceitos em discussão. Aí a gente pergunta sobre esse conceito – criando um problema filosófico – e aí a gente responde esse problema filosófico com um argumento, tese ou teoria filosófica. Bom: essa caracterização de filosofar não abarca 100% o que é feito dentro da filosofia, mas pode-se dizer que uma boa parte é feita desse modo.
[Laira]
É um ponto de partida.
[Frank]
É um ponto de partida. Exatamente.

Bloco 3

[Laira]
Dessas características aí que tu me falou, a que ficou mais vaga pra mim foi a do filosofar. Tem como tu me falar um pouco mais disso?
[Frank]
Tenho sim, pô. O filosofar que aqui caracterizo envolve ao menos três elementos: o conceito, o problema filosófico e a resposta filosófica. Vou falar separadamente de cada um deles pra assim ficar mais fácil de entender, tá bom?
[Laira]
Fixa, parceiro.
[Frank]
Olha: pode-se dizer que o conceito é um termo geral utilizado pelo pensamento para representar uma parte específica da realidade. Por exemplo: o que vem a sua mente quando pensa no conceito de água?
[Laira]
Olha… eu penso naquilo que está dentro de um copo ou naquilo que sai de uma mangueira ou torneira… e a água é aquilo que compõe o mar e os rios também.
[Frank]
Mais alguma coisa?
[Laira]
Tem as mais óbvias: ela é um líquido e é transparente e é molhado.
[Frank]
Viu? A palavra ÁGUA, que representa o conceito de água, está em várias coisas e lugares. Você entende o que isso significa. Isso é um conceito. Além disso você entende que um conceito tem o que se chama de extensão, ou seja, é o total de coisas no mundo a qual um conceito se refere, assim como entende o que é intensão – com s -, que trata das propriedades que usamos para caracterizar ou identificar um conceito.
[Laira]
Verdade.
[Frank]
A gente tem vários conceitos na nossa mente e muitos deles são filosóficos. Por exemplo: Deus, realidade, livre arbítrio, moral, conhecimento, ciência, mente, arte etc. Agora: o que uma pessoa faz ao filosofar é perguntar sobre esses conceitos. E aqui chegamos ao problema filosófico. Um problema filosófico, além de ser resolvido apenas com o pensamento, envolve de alguma forma conceitos e tem alguns formatos bem conhecidos – por exemplo: “O que é X?”, sendo X um conceito, assim como “Será que X existe?” ou “Haverá justificação para X?” ou até mesmo “Qual a natureza de X?”.
[Laira]
Então quando eu me perguntei “Qual é o sentido da vida?”, estava formulando um problema filosófico.
[Frank]
Exato.
[Laira]
Huuummmm… entendi.
[Frank]
Agora: um destaque que eu gostaria de fazer é que os problemas filosóficos são especializados. Na verdade isso é comum em toda disciplina do conhecimento: como cada uma delas tem seus subcampos, suas subdisciplinas, então cada subdisciplina tem seus próprios problemas – e a filosofia não escapa disso.
[Laira]
Uma pergunta rápida: quais são as disciplinas da filosofia?
[Frank]
São muitas! Algumas delas seriam a metafísica, epistemologia, ética, lógica, filosofia política, filosofia da arte, filosofia da mente, filosofia da linguagem, filosofia da ciência, filosofia da religião, filosofia do direito, etc.
[Laira]
E cada uma delas tem seus próprios problemas MAS, no geral, elas são problemas filosóficos…
[Frank]
Isso mesmo. Aí os problemas não se misturam: os problemas filosóficos da metafísica são diferentes dos da ética, que são diferentes dos da epistemologia e assim se sucessivamente.

Bloco 4

[Laira]
E a resposta? Como se dá uma resposta a um problema filosófico?
[Frank]
O problema filosófico, em linhas muito gerais, é respondido com um argumento.
[Laira]
Mas o que é um argumento?
[Frank]
Um argumento, em linhas gerais, já fazendo aqui uma adequação didática, é uma sequência de afirmações onde uma dessas afirmações – que é a conclusão do argumento – é justificada ou defendida com outras afirmações – que são as premissas do argumento. Então quando um problema filosófico é respondido por um argumento, ele está sendo respondido mais precisamente pela conclusão do argumento – e a conclusão é suportada pelas suas premissas.
[Laira]
Eu entendi mas ainda não entendi. Lança aí um exemplo…
[Frank]
Um exemplo de argumento seria esse aqui: a premissa 1 seria “Todo homem é mortal”; a premissa 2 é “Sócrates é um homem”; a conclusão é “Sócrates é mortal”. Todo homem é mortal. Sócrates é um homem, logo, Sócrates é mortal.
[Laira]
Aaaaaaaaaaaaaaaaa taaaaaa. Agora entendi!
[Frank]
Entendeu?
[Laira]
Entendi sim.
[Frank]
Agora: você pode não concordar com a resposta dada ao problema filosófico. Então uma opção seria você apresentar um outro argumento pra concorrer com aquele que foi dado anteriormente como resposta. Mas você também pode discordar REFUTANDO a resposta inicialmente apresentada.
[Laira]
Como assim refutando?
[Frank]
Ora: a refutação é a apresentação de um argumento contra um outro argumento. Então tu refutar a resposta inicialmente dada significa tu argumentar porque discorda dela, organizando essa discordância na forma de um argumento. Imagina o seguinte: todo cisne é negro. Tetuliano é um cisne, logo, ele é negro. Você concorda com isso?
[Laira]
Acho que não… porque é plenamente possível existir cisnes que não sejam negros – como os da cor branca. Logo, não concordo que todos os cisnes sejam negros.
[Frank]
Viu? Você entendeu bem o rolê da refutação.
[Laira]
Ainda bem!
[Frank]
Alguma dúvida sobre tudo que expliquei até aqui?
[Laira]
Olha… eu acho que tenho uma.
[Frank]
Diga.
[Laira]
Pelo que entendi, tanto o problema filosófico quanto a resposta a esse problema envolvem conceitos.
[Frank]
Certo.
[Laira]
Só que eu me lembro bem dos exemplos de conceitos que você me deu como filosóficos. E, tipo: esses conceitos são muito amplos, bem abstratos mesmo. Tem certeza que quando a gente pergunta sobre o conceito por meio de um problema filosófico a resposta a esse problema basta ser um argumento? Tipo: um só argumento? É que eu fiquei com a sensação de que parece tão pouco responder algo tão complexo com um único argumento…
[Frank]
Bem notado, Laira. Bem notado.
[Laira]
Então não tô falando coisa com coisa?
[Frank]
Num tá não, pô. Num tá não. Realmente um mísero argumento ser uma resposta a um problema filosófico é muito pouco. Por isso as premissas, por exemplo, se tornam nas conclusões de um argumento.
[Laira]
Opa. Como assim?
[Frank]
Você pode considerar cada premissa que dá suporte a conclusão de um argumento como a conclusão de um outro argumento. Pega denovo o argumento do Sócrates. A premissa 1 dele se torna a conclusão de um argumento. Com a premissa 2 a mesma coisa. Aí temos três argumentos: o principal – o do Sócrates – e os secundários – aqueles que tem por conclusão as premissas do argumento principal.
[Laira]
Olha só que legal!
[Frank]
Conseguiu imaginar?
[Laira]
Consegui sim.
[Frank]
Então é possível responder um problema filosófico com toooodo um conjunto de argumentos. Aí as respostas não são mais pequenas, mas sim maiores e mais complexas.
[Laira]
Entendi…
[Frank]
E é possível ir um pouco além: Você pode tornar mais forte o seu argumento apresentando algumas objeções. Então você mesmo escreve alguns argumentos que buscam refutar o seu argumento e aí você mesmo refuta essas objeções com outros argumentos. Quando você faz isso, você deixa ainda mais forte o seu argumento – seja ele o principal ou os secundários. Aí a resposta ao problema filosófico fica ainda mais complexa: tem o argumento principal, os secundários, as objeções ao argumento principal e aos secundários e, por fim, a refutação as objeções apresentadas – fortificando o argumento principal e os secundários.
[Laira]
Nossa: é realmente todo um conjunto de argumentos mesmo.
[Frank]
Poisé. E a resposta pode ficar ainda mais complexa. Por exemplo: uma tese filosófica é uma conclusão de um argumento que é suportando por toooodo um conjunto considerável de argumentos. E uma teoria filosófica é uma resposta filosófica formada por um conjunto de teses filosóficas.
[Laira]
Oloco!

Bloco 5

[Frank]
Quer por em prática isso tudo que eu acabei de te explicar?
[Laira]
Mas já???
[Frank]
Mas é claro! Pode não parecer, mas parte do processo de filosofar as pessoas já fazem: elas argumentam, objetam e tudo mais. Tu vai ver que não é tão difícil.
[Laira]
Então é tão fácil assim começar a filosofar?
[Frank]
Você não começa do nada, pelo menos. E filosofar, filosofar mesmo é algo mais disciplinado. Então requer certo tempo de prática, claro, mas tu consegue aplicar as habilidades argumentativas exercitadas na filosofia em outras áreas e momentos da sua vida.
[Laira]
Nhaaammmmmm…
[Frank]
Seguinte: eu vou te apresentar um caso pra discutirmos ele de maneira filosófica, tá?
[Laira]
Tá bom.
[Frank]
E aí com esse caso vamos por em prática essa caracterização de filosofar que te apresentei, certo?
[Laira]
Certo.
[Frank]
O caso é o seguinte: nasceu no estado da Flórida um bebê de nome Theresa. Essa bebê nasceu com anencefalia. Ou seja: faltam partes do cérebro dela, né, mas ainda sim é possível que o bebê respire e tenha batimentos cardíacos. Infelizmente, quando um bebê nasce assim, ele geralmente morre em alguns dias.
[Laira]
Nossa que triste!!!
[Frank]
Porque conto esse caso? Pelo seguinte motivo: os pais da bebê Theresa, sabendo da sua morte iminente, decidiram por doar os órgãos da sua filha para o transplante imediato.
[Laira]
Huuummmmmm…..
[Frank]
Eles pensaram: outras crianças poderiam se beneficiar dos órgãos da minha filha porque ela própria não vai – não por muito tempo, né. E os médicos concordaram com o pedido dos pais. Mas é aí que vem o problema: o estado da Flórida tem uma lei que proíbe a remoção de órgãos até que o doador… morra. Aí a bebê Theresa morreu oito dias depois e por morrer tão tarde os seus órgãos não serviam mais para a doação.
[Laira]
Não deu tempo.
[Frank]
Não deu tempo. Isso mesmo…
[Laira]
E agora? Como vamos debater filosoficamente sobre esse caso?
[Frank]
A gente vai fazer isso tendo em mente o seguinte problema filosófico: a bebê Theresa deveria ter sido morta para que os seus órgãos tivessem sido doados para o transplante em outras crianças?
[Laira]
Independente da lei?
[Frank]
Isso mesmo.
[Laira]
Huuuuummm….
[Frank]
Eu posso começar?
[Laira]
Pode sim.
[Frank]
Beleza. Eu estou com os pais e acho que os órgãos da Theresa deveriam ser transplantados.
[Laira]
Porque?
[Frank]
Porque transplantar os órgãos poderia beneficiar outras crianças, sabe? E sem causar dano a bebê. E, tipo: se é possível beneficiar alguém sem causar dano a ninguém, então acho que devemos fazer isso. O que você acha?
[Laira]
Eu não sei não, olha… É que transplantar os órgãos da Theresa tiraria a vida dela, num é? E isso é causar um dano a ela.
[Frank]
É melhor estar vivo do que estar morto?
[Laira]
Exato! Por isso que não me parece boa ideia transplantar os órgãos: porque causaria um dano a bebê. Ela morreria, no caso…
[Frank]
Só que viver, viver mesmo é estar em condições de aproveitar ela plena e conscientemente, né. De aproveitar a vida pra além das suas condições só biológicas.
[Laira]
Por exemplo?
[Frank]
Como por exemplo ter pensamentos, sentimentos e relações com outras pessoas.
[Laira]
Huuummmmm….
[Frank]
E aí a bebê Theresa não estaria em condições de viver de verdade. Tipo: ela tem anencefalia, então não conseguiria viver além das suas condições biológicas.
[Laira]
Verdade, ó…
[Frank]
Por isso que não dá pra considerar que ela está viva, saca? E aí por causa disso não tem como dizer que transplantar os órgãos dela causaria dano a ela.
[Laira]
É verdade.
[Frank]
Então você acha que a posição dos pais é a correta?
[Laira, após poucos segundos de silêncio, fala]
Olha… eu acho que ainda não. Ainda tô incomodado com essa ideia de doar os órgãos dela…
[Frank]
Sério?
[Laira]
Sim…
[Frank]
E o que te incomoda?
[Laira]
É que eu acho errado usar as pessoas como meio para o fim de outras pessoas, sabe… Como retirar os órgãos dela pra beneficiar outras crianças é usar ela, então não concordo. Por isso não acho que se deve transplantar os órgãos da Theresa: porque é usá-la para um fim, entende?
[Frank]
Huummm… Entendo sim. Só que pensa comigo: usar as pessoas significa violar a sua autonomia.
[Laira]
Mas o que você entende por autonomia?
[Frank]
Eu entendo algo como a habilidade de decidir por si mesmo como viver a sua vida – e isso de acordo com os seus próprios desejos e valores. Aí violar a autonomia de uma pessoa seria por meio de manipulação, fraude ou engano.
[Laira]
Certo.
[Frank]
A anencefalia da Theresa a impede de ser autônoma. Ela não toma decisões, ela não tem desejos e não pode valorar qualquer coisa que fosse. Como a Theresa não é dotada de autonomia, não haveria aí qualquer uso dela para um certo fim.
[Laira]
É… Só que a Theresa é uma pessoa. E é sempre do interesse das pessoas estar vivo. Por causa disso que não acho legal transplantar os órgãos da Theresa: porque isso atentaria o seu interesse como pessoa.
[Frank]
Olha: eu entendo a sua objeção. De verdade. Mas é que só é possível considerar que viver é do melhor interesse de uma pessoa quando ela é capaz de enunciá-lo. E a Theresa não é capaz disso porque é uma bebê. Então não é possível saber se é do interesse dela viver.

Encerramento

[Frank]
Olá, pessoas esclarecidas! Aqui quem fala é Frank Wyllys e sou tanto filósofo público quanto tenho TDAH.
[Laira]
Olá, gente! Eu sou Laira Maressa, sou biomédica e pesquisadora da Fiocruz Amazônia.
[Frank]
Então: esse é o primeiro episódio da terceira temporada do podcast onde trato de boa parte dos mais conhecidos problemas filosóficos que perpassam o cotidiano das pessoas. Além disso, essa é uma temporada 100% financiada pela Manauscult, que é a secretaria de cultura do município de Manaus. Caso ainda esteja por fora, né, ano passado eu submeti um projeto a um edital de cultura de nome Thiago de Mello na sua versão novos Talentos onde propunha uma temporada de 11 episódios sobre as grandes questões da filosofia. E num é que o projeto foi selecionado? Com isso, recebi o valor de 10 mil reais, gente, pra produzir essa temporada. Então é mais do que minha obrigação vir aqui no final dos episódios dessa temporada agradecer a Manauscult pela oportunidade, né. Aliás: durante essa temporada, dado o patrocínio e as condições impostas pelo edital que participei, a oferta dos episódios será gratuita. Ou seja: não irei pedir aqui de vocês a tradicional contribuição financeira pelo Pix ou PicPay que fiz nas temporadas anteriores. Não precisa, tá? Mas se ainda sim você quiser realizar esse apoio financeiro, saiba que esse dinheiro será usado em outras produções do projeto Esclarecimento, certo?
[Laira]
Dito isto, o episódio está embasado em algumas referências e vale destacar algumas delas. Uma delas é o Trabalho de Conclusão de Curso do próprio Frank e que você pode encontrar no Repositório Institucional da UFAM. Só buscar pelo título “Das competências filosóficas como critério de avaliação no ensino da filosofia.”. Uma outra referência seria o texto “Introdução ao Pensamento Filosófico” da filósofa Ann Baker. Esse texto se encontra no livro “Filosofia: textos fundamentais comentados” do Laurence Bonjour e Ann Baker.
[Frank]
Por fim, siga o podcast na internet! Você pode fazer isso nos seguindo no seu aplicativo ou serviço favorito de podcast – Spotify, Google Podcasts, Deezer, Amazon Music, Stitcher ou Castbox – ou nos seguindo nas redes sociais: no Facebook, Instagram e TikTok é @esclarecimentop – tudo junto e minúsculo – e no Twitter é @esclarecimento_ – tudo junto e minúsculo também.
[Laira]
Isso é tudo por hoje, pessoal.
Até o próximo episódio!
[Frank]
Tchau tchau!


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