Transcrição do nono e último episódio da segunda temporada tratando sobre Filosofia política e publicado no dia 25 de outubro de 2022. O assunto é Voto.
BLOCO 1
[INÍCIO DO EPISÓDIO]
[VÍDEO DO TSE]
[FRANK]
O que você acabou de ouvir foi um trecho de uma campanha do Tribunal Superior Eleitoral sobre as eleições desse ano. Ela é bem clara: vote. Mas… porque? Votar, de certa forma, é fácil: basta escolher um candidato e depositar o seu voto nele no dia da eleição. Entretanto, esse candidato, após eleito, pode ser ruim e trazer grandes danos à sociedade e diminuir o bem-estar dessa sociedade. Por exemplo: ganhamos leis ou iniciativas federais que promovem o racismo, o machismo, a homofobia e a transfobia; a economia piora, trazendo um aumento da inflação, desemprego, aumento do custo de vida e aplicação do dinheiro público em programas e políticas ineficientes; a saúde, a educação e a ciência retrocedem, existindo ou sendo realizadas em ambientes precarizados; direitos são perdidos ou suprimidos. Com tudo isso de consequências negativas, é preferível votar em um candidato bom, um candidato que irá promover ou implementar políticas públicas que maximizam o bem-estar na sociedade.
[SOM DE UMA BATERIA TOCANDO JAZZ SURGINDO AO FUNDO]
O episódio de hoje será sobre o conceito de voto.
Meu nome é Frank Wyllys e esse é mais um episódio do Esclarecimento.
[SOM DE UMA BATERIA TOCANDO JAZZ DESAPARECENDO AO FUNDO]
[CURTA PAUSA SILENCIOSA]
BLOCO 2
[MÚSICA SURGINDO AO FUNDO]
[MÚSICA FICANDO COMO SOM DE FUNDO]
[FRANK]
O problema filosófico que irei tratar aqui é o seguinte: votar deve ser obrigatório? Algumas respostas foram oferecidas a esse problema.
Uma razão para votar está na perspectiva de influenciar ou alterar o resultado de uma eleição. Suponha o seguinte [SOM DE SONHO]: dois candidatos estão em disputa para um único cargo. Esses dois são o L [SOM DE ITEN PIPOCANDO] e o B [SOM DE ITEN PIPOCANDO]. Suponha agora que você prefira L [SOM DE LÁPIS MARCANDO NO PAPEL] à B devido você acreditar que L vai implementar políticas que irão maximizar o bem-estar na sociedade [SOM DE URNA ELETRÔNICA]. Agora: qual a probabilidade de um voto individual em L ser decisivo e influenciar ou alterar o resultado de uma eleição?
Responder essa questão depende de duas coisas: do número de eleitores e da divisão desses eleitores em relação aos candidatos. Quanto mais eleitores existirem, menor será a probabilidade do voto individual ser decisivo. Ou seja: é muito provável que o seu voto tenha baixíssimo impacto numa eleição caso a eleição seja composta de milhares ou milhões de eleitores. A pessoa que vota, portanto, geralmente recebe muitos poucos ganhos a si própria apesar do quão custosa é essa ação – ou seja: os benefícios que ela poderia obter a partir do voto tendem a ser menores do que o custo de ir votar. No fim, é bem surpreendente que as pessoas votem.
Se o voto individual não tem diferença significativa, então vai ser preciso buscar uma outra razão para votar. Uma outra razão para votar está em se expressar através do voto. O voto, sendo aqui considerado uma atividade de consumo ao invés de um atividade produtiva, é uma ação realizada pelo eleitor para demonstrar ou expressar o seu comprometimento com certa posição ou grupo político. Nesse sentido, o voto seria tipo torcer para o Brasil na copa, saca? [SOM DE TORCIDA DO BRASIL] A gente se pinta de verde e amarelo, usa peruca, camisa da seleção… mas a nossa torcida não afetar o resultado dos jogos do Brasil. A gente quer que o Brasil ganhe os jogos? Claro! Mas o ponto é torcer, mostrar o nosso comprometimento com a seleção. O voto talvez funcione dessa forma [SOM DE NARRAÇÃO DE GOL DO BRASIL]. Além dessas duas anteriores, uma outra razão para votar está em cumprir um dever ou a virtude cívica. Qual é a ideia por trás disso? É o seguinte: o eleitor acredita que ele deve fazer a sua parte como cidadão. Ou seja: ele tem deveres a cumprir. Um desses deveres seria o de votar. Por isso ele vota: é o seu dever como cidadão, pois votar é uma das formas ele exercer a sua cidadania. Uma objeção a essa ideia está defender que o exercício da virtude cívica pelo eleitor não implica no seu dever de votar. O eleitor, como cidadão, pode exercer a sua virtude cívica de outras formas: através do trabalho voluntário, da arte, através de alguma atividade estritamente individual mas que gere excedente social – como uma pesquisa científica ou o fornecimento de algum serviço ao mercado – e por aí vai.
[MÚSICA DESAPARECENDO AO FUNDO]
[SOM DE URNA ELETRÔNICA]
BLOCO 3
[MÚSICA SURGINDO AO FUNDO]
[MÚSICA FICANDO COMO SOM DE FUNDO]
[FRANK]
Uma outra preocupação em relação ao voto está na maneira como um eleitor vota. O filósofo Jason Brennan, no livro “The Ethics of Voting”, defende que os cidadãos não devem votar mal. Esses cidadãos, sendo maus eleitores, devem se abster de votar ao invés de poluir a democracia com votos ruins. Mas o que de fato é um voto ruim? O Brennan entende por voto ruim dois tipos de voto: o voto prejudicial injustificado e o voto fortuito. A ideia é que você evita esses dois tipos de voto – e muitos outros tipos de votos ruins – ao acreditar de maneira justificada que os candidatos e as políticas que eles apoiam irão promover o bem comum.
Vamos entender melhor quais são esses dois tipos de votos ruins listados pelo Brennan. Comecemos pelo voto prejudicial injustificado. O voto prejudicial injustificado ocorre quando um eleitor vota sem justificativa epistêmica em políticas nocivas ou em candidatos que possam implementar políticas nocivas. Quer um exemplo? Imagina que uma pessoa vota pela proibição do casamento gay. Ela faz isso porque considera esse tipo de casamento repugnante – ou seja: ela é claramente homofóbica. Essa pessoa está dando um voto prejudicial injustificado. O ponto aqui é que essa pessoa vota se justificando a partir de uma crença não somente injustificada, mas imoral.
Agora: porque não se deve dar um voto prejudicial injustificado? Deve-se evitar dar um voto prejudicial injustificado devido ele violar um dever mais geral de não se envolver em atividades prejudiciais coletivas. Atividades prejudiciais coletivas são aquelas causadas por um grupo ou coletivo – onde a contribuição prejudicial individual é insignificante tal qual o impacto do voto individual nos resultados de uma eleição. Poluir o ar é uma atividade prejudicial insignificante, pois o dano é muito pequeno, mas é uma atividade coletivamente prejudicial devido o dano em grupo ser bem grande.
O ponto aqui sobre as atividades prejudiciais coletivas está em não se envolver nelas, se abster delas caso essa abstenção não tenha um custo pessoal significativo. Você pode até não resolver o problema em causa, mas se possível, é mais do que preferível não se envolver nesse problema. Trazendo isso para a questão do voto, caso seu voto leve a políticas prejudiciais as pessoas, o melhor a se fazer é não votar em candidatos que levem a implementação dessas políticas. Vote de modo a não fazer parte do problema. Seguindo adiante, um outro tipo de voto ruim advogado pelo filósofo é o voto fortuito. O voto fortuito é o voto certo, que leva a políticas benéficas, mas dado sem justificativa suficiente para o depósito desse voto. Um voto fortuito, portanto, leva a políticas benéficas por sorte. Dado o grande risco que o voto fortuito representa, pois esse tipo de voto leva a coisas boas apenas por acidente, esse voto é errado e deve ser evitado. O eleitor tem a obrigação de não participar de uma atividade coletiva – como o voto fortuito – devido ela levar a um risco indevido, devendo se abster dela caso essa abstenção não resulte em um custo pessoal significativo. Devemos evitar o voto fortuito pelo bem das outras pessoas, pois não devemos colocar elas em um risco desnecessário. A sorte não deve ser a regra.
[MÚSICA DESAPARECENDO AO FUNDO]
[SOM DE URNA ELETRÔNICA]
AGRADECIMENTOS
[MÚSICA SURGINDO AO FUNDO]
[MÚSICA FICANDO COMO SOM DE FUNDO]
[FRANK]
Oláááááá!!! Tudo bem por aí???
Aqui quem fala é Frank Wyllys e tenho TDAH, sou licenciado em filosofia pela UFAM e o faz tudo desse podcast.
Esse é o nono e último episódio da segunda temporada onde trato de Filosofia política. Agradeço demais a todos que doaram e contribuíram financeiramente com o podcast. De verdade. Espero que essa temporada tenha explorado muitos conceitos-chave dessa disciplina filosófica chamada filosofia política, que as referências que fundamentam os episódios venham a servir de caminho para um maior aprofundamento nos conceitos que abordei nos episódios e por aí vai. Também agradeço a toda curtida, RT, compartilhamento, a divulgação de vocês dos episódios que aqui lancei desde agosto <3.
Aliás, em relação as referências que embasam esse episódio, as principais são duas do filósofo Jason Brennan: a primeira é o seu livro “The Ethics of Voting” e o segundo é o seu verbete traduzido e publicado no site Crítica na rede de título “A ética e a racionalidade do ato de votar”.
Além disso eu gostaria de agradecer as contribuições financeiras de Fylype Wase, Laira Maressa, Camila Ruzo, Paloma Coelho e Heloisa Mascarenhas, Jéssica Soares e Bismarck Bório. Caso deseje apoiar este podcast, faça uma doação em um valor qualquer ou assine o podcast a partir de 5 reais. Só mandar um Pix para esclarecimentopodcast@gmail.com ou ir no link esclarecimentopodcast.wordpress.com/financie/.
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Isso é tudo por hoje, pessoal.
Obrigado por tudo!
Até o próximo episódio!
Até o próxima temporada!
E no dia 30 de outubro de 2022 vote 13, em?
Tchau Tchau!!
[MÚSICA DESAPARECENDO AO FUNDO]
[FIM DO EPISÓDIO]